Fetiches online x Empreendedorismo

Janine Seus, mestre em inteligência artística do design pela UFPE e atualmente professora da Fanor | DeVry concedeu entrevista à revista Continente Online contando como ganhou grana e ainda de quebra desenrolou o TCC e o mestrado através do seu avatar na plataforma Second Life.

Uma coisa é certa, as plataformas mudam, mas as necessidades sexuais são sempre as mesmas.

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Imagem/Divulgação

CONTINENTE: Como é um programa no mundo virtual? O que você faz de fato?

JANINE SEUS: Nesta época, o Second Life ainda não possuía o sistema de Voice Chat, que permitia que os usuários conversassem através do áudio. Tudo era escrito, e quando havia sons, estes eram gravados e reproduzidos através de botões em uma interface. Assim era também com o sexo virtual. Eu comprei um sex hud, que era um display de tela contendo diversos botões, cada um reproduzindo um som específico, palavras, vocalizações, gemidos, gritinhos, tudo pré-programado para agradar a clientela virtual.

Eu sentava em frente ao computador com os livros na mão e brincava de copiar e colar meu arsenal de textos eróticos e apertar os botões com sons específicos. Quando me sentia inspirada, bancava a terapeuta, ouvindo e aconselhando os clientes, sempre com palavras doces e encorajadoras.

O sexo virtual no Second Life acontece a maior parte do tempo verbalmente, a parte visual é garantida pelas poses programadas, embutidas em uma cama ou outra mobília com um controle de movimentos. É tudo automático, e o prazer de cada um advém de sua própria criatividade e imaginação.

 CONTINENTE: Ser uma garota de programa em um mundo virtual te satisfaz?

JANINE SEUS: O sexo virtual nunca foi um grande interesse para mim, mas sim o estudo do comportamento humano por trás destas práticas. Eu já havia feito um curso de especialização em Etnomusicologia, e a Antropologia me era um assunto fascinante.

Observando o comportamento das garotas e seus clientes, percebi que poderia ganhar dinheiro facilmente dando aos usuários exatamente aquilo que eles buscavam inconscientemente, que era não simplesmente o sexo, pois tudo ali era virtual, mas sim serem ouvidos, compreendidos, acolhidos.

Além de estudar o que leva alguém a procurar uma companhia virtual, compreensão e prazer, o dinheiro virtual também me satisfazia.

 CONTINENTE: Também existe o preconceito com as garotas de programa virtual?

JANINE SEUS: Não. Nunca sofri ou presenciei nenhum tipo de preconceito no Second Life. No metaverso cada um faz o que quer, é o que deseja ser e há uma grande liberdade e respeito pela individualidade dos avatares. É o local onde cada um pode ser o que sempre quis ser, independentemente de preconceitos, limites, regras, sociedade.

Existe sim uma tendência a haver separação entre raças, tipos, grupos, guildas, clans, mas tudo isso faz parte das diversas sociedades criadas dentro do mundo virtual. Dando como exemplo as raças dentro de um mundo de “Role Play Game”, em algumas terras virtuais do Second Life como elfos, sereias, orks, fadas, ogros, goblins, humanos.

 CONTINENTE: Qual nome você usa no Second Life? Como as pessoas podem te achar?

JANINE SEUS: Tenho diversos avatares. A minha primeira avatar, a que foi “Escort Girl” se chamava Samantha Stepanov. Logo após ganhar dinheiro suficiente e aprender o que necessitava para começar a criar minhas próprias skins, comecei um negócio virtual. Uma loja de textura de peles para avatares. Esta loja me inspirou a realizar o meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), incentivada pelo meu professor de Empreendedorismo Virtual.

A loja rendeu um lucro considerável, fiz sociedade com um designer gráfico e um publicitário de uma agência famosa. Participamos de concorrências e congressos nacionais de empreendedores virtuais. Um de meus sócios, após a quebra da nossa sociedade, montou sua própria loja e chegou a ter um lucro mensal médio de cinco mil reais por mês, apenas vendendo skins.

Após o fim da sociedade, montei minha própria loja de skins, o que acabou enveredando para a criação de skins temáticas direcionadas ao público de RPG virtual.

Em 2008 entrei no mestrado de Design da UFPE, intencionando fazer pesquisa sobre a projeção do alter-ego do usuário na confecção de avatares, mas durante o processo de seleção e realocação de projetos, acabei por mudar meu tema de pesquisa para metodologia do design de artefatos virtuais arquitetônicos no Second Life.

Hoje possuo o título de mestre na linha de pesquisa de Inteligência Artística do departamento de Design da UFPE.

Atualmente trabalho como Designer Gráfico para uma empresa na Refinaria Abreu e Lima, em Suape – PE.

Meu avatar atual é Ludmilla RogozarskiEla é dona de uma cadeia de lojas de estruturas arquitetônicas virtuais com temática de RPGs, SU Designs, e também de um café, um sushi bar, uma marina e uma casa de shows virtuais, o The Tree House Café.

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Imagem/Divulgação

Esta entrevista foi concedida em maio de 2013.

E aí, foi bom para você?

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